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terça-feira, 26 de julho de 2011

A FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE RODELAS


A formação do município de Rodelas – BA está estreitamente relacionada à presença de um conjunto de povos indígenas que habitavam o médio baixo São Francisco e que foram ao longo da história sendo reduzidos e agrupados nos aldeamentos missionários dessa região, construídos e administrados a partir do século XVII por Jesuítas, Carmelitas, São Franciscanos e Capuchinhos. O aldeamento de Rodelas foi à última que saiu do centenário projeto missionário do São Francisco.
O confinamento das populações indígenas nas missões religiosas possibilitava abrir espaços para expansão da frente pastoril, que era atividade econômica que mobilizava o projeto de colonização portuguesa para a região. O processo de colonização branca teve início com os descendentes do pecuarista Garcia D’ Ávila.
Os conflitos entre os brancos colonizadores e os indígenas se intensificaram a partir da década de 20 (vinte) quando, por medo do Cangaço, a população que vivia nas fazendas começa a se aglomerar em torno da igreja onde se encontrava o antigo aldeamento missionário de Rodelas. As famílias brancas, proprietários de terras, e que detinham o poder político local iam expulsando os índios de suas casas e das ilhas, onde praticavam uma agricultura de subsistência. Esses índios ainda que submetidos as pressões dos brancos, resistiam á saída de seu local de origem, formando uma única povoação se distinguindo porque os índios moravam na área que ficava rio acima a partir da igreja, enquanto os não – índios ocuparam as áreas rio abaixo a partir da mesma igreja.

Os ex-escravos eram empregados dos proprietários de terras locais e foram se agrupando no povoado atrás da rua principal onde residiam os brancos “descendentes dos colonizadores”. Os morenos, termo ainda hoje utilizado no município de Rodelas - BA, para designar afro descendente, vieram se estabelecer no pequeno povoado, tanto devido ao medo do cangaço como a desestruturação da economia local que era centrada nas fazendas.

O nome Rodelas originou-se no século XVII, devido a um índio que se tornou famoso por participar na guerra contra os holandeses na Ribeira das Alagoas do São Francisco, sob o comando de Antônio Felipe Camarão Potiguar, onde expulsaram os inimigos da região. Esse índio ficou conhecido com o nome Rodela por fazer e usar um colar feito de ossos, com formato semelhante a uma rodela. Ao retornar para sua aldeia, foi batizado como Francisco Rodelas e por essa razão os índios que habitavam as proximidades de sua aldeia, ficaram conhecidos como índios rodeleiros.
Como distrito, elevado a esta condição em 30 de setembro de 1938, recebeu o nome de Rodelas, passando a fazer parte do município de Santo Antônio da Glória. No dia 30 de julho de 1962, o povoado de Rodelas eleva-se a categoria de município, pela Lei nº 1.768 publicado no diário Oficial do Estado dia 31/07/1962. No mesmo ano aconteceram as primeiras eleições municipais para prefeito e vereadores.
A zona rural era constituída basicamente por diversas fazendas. Na década de 20 o medo do cangaço fez com que a população dessas fazendas, na grande maioria migrasse para o povoado de Rodelas. Com o fim do cangaço e o aumento populacional, outras fazendas surgiram bem como pequenos povoados ao longo de todo o território do município. Este fato provocou brigas constantes com os indígenas da região que aos poucos foram perdendo suas terras. São algumas fazendas e povoados: Pedra Grande, Saco, Riacho do Saco, Araticum, Oiteiro, Jacó, Barro Branco, Salina, Barbosa, Itacoatiara, Salgado, Caldeirão, Ezequiel, Barro Vermelho, Cachauí, Quixaba, Jatobá, Penedo, Tapera, Moreira, Olho D’água, Várzea Grande e etc. Não é possível determinar com precisão a distância destas fazendas e povoados da sede, por falta de dados da época.

Em 1974, foram dados os primeiros passos para a Criação da Barragem no lugar da antiga Cachoeira de Itaparica-PE. A formação do lago em 1988 devido à construção dessa barragem inudou sete municípios (Floresta, Petrolândia, Itacuruba e Belém do São Francisco em PE, Glória, Chorrochó e Rodelas na BA). Desses municípios atingidos foram inteiramente alagados os núcleos urbanos de Petrolândia e Itacuruba no território pernambucano; e de Rodelas e Glória no estado da Bahia. O lago inudou cerca de 834 km2, ao longo de 100 metros da margem do rio, obrigando o deslocamento de 12 mil famílias, cerca de 64 mil pessoas, sendo das quais 4.486 pessoas do município de Rodelas - BA.
O tratamento dado a estas populações restringiu-se, na maioria dos casos, ao pagamento das indenizações pelas áreas alagadas, sendo desconsiderados elementos inatingíveis como a perda da qualidade de vida, das referências culturais e dos padrões de organização social. Como no caso do grupo indígena Tuxá que acabaram se dividindo em três projetos de reassentamento diferentes. Um dos grupos resolveu permanecer no município. Outro grupo, questionando a qualidade e produtividade dessas terras, reivindicou terras preservadas localizadas na margem do rio São Francisco, nas fazendas “Morrinhos” e “Oiteiros”, próximos à cidade de Ibotirama – BA. Um terceiro grupo se instalou no município de Inajá - PE.

A “Nova Rodelas - BA” foi planejada e construída na borda do lago formado pela barragem. Na concepção urbanista, a cidade possui uma configuração espacial bem diferente do conjunto urbano compacto da antiga cidade. A ocupação se deu a partir de quadras (lotes amplos) em torno dos principais prédios públicos. A aldeia Tuxá divide com o restante da população o espaço urbano, separados apenas por uma placa que avisa ser aquela localidade território indígena.
Os novos bairros que então surgiram acompanharam o padrão periférico de expansão urbana, sem dispor de infra-estrutura urbana, de equipamentos sociais e grande número de moradores auto - construíram suas casas, na maioria das vezes ilegais.
A construção da Barragem de Itaparica – PE foi um divisor de águas na história dos rodelenses. Dentro de uma perspectiva mais global, as ações para construção da hidroelétrica nascem dentro do contexto do regime militar. Esse regime ditatorial inviabiliza qualquer participação popular nos destinos do país e por outro lado impõem um modelo de “desenvolvimento”.
Assim, a construção da Barragem foi “fato consumado”, sem ouvir a população local e sem preocupar-se com as conseqüências. Essas conseqüências são mais presentes na destruição de organizações sociais (Tribo Tuxá, dividida em três aldeias); terras de boa qualidade alagadas, desmatamento, alteração no clima e transformações no modo de vida da população.

FONTE: SEC. DE EDUCAÇÃO E CULTURA












 

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